Normalmente quando penso em escrever, me vêm muitas lembranças e a maioria
são tristes.
Não consigo evita-las pois simplesmente acontecem, brotam no
pensamento repentinamente e com a mesma velocidade se vão. Não quero parecer
melancólico ou choroso, mas gostaria de ser o mais transparente aqui sobre as
vivências que me tornaram esta pessoa que vos escreve.
Sou filho de uma família de três irmãos e como se pode imaginar, as
condições de vida de uma família assalariada com uma renda baixa não é das
melhores. Some-se a isso o descontrole financeiro e uma pitada de vicio.
Minha vida não foi uma desgraça como muitos pintam as suas por aí, mas confesso
que tive alguns baixos. Normalmente situações que são comuns para a maioria, na
minha vida exigia um esforço quase descomunal que quase sempre se traduzia em
frustração.
Lembro de quando na infância eu e meu irmão pedimos a nosso pai uma bicicleta
e de como no passar dos anos as promessas iam se renovando sem nunca ser
cumprida. Cansados e já desacreditados de recebe-la, resolvemos montar uma peça
por peça. No fim, conseguimos monta-la e com 15 reais recebidos do nosso pai,
compramos as rodas que estavam faltando. A magrela mais quebrava do que rodava,
por isso andávamos com uma chave de roda no bolso no caso dela quebrar no meio
do caminho, o que quase sempre acontecia.
Não demorou muito para que meu velho nos proibisse de andar nela
com a desculpa de que eu tinha atropelado o filho do vizinho (o que em parte
aconteceu por falta de freios que ainda não tínhamos comprado).
A bicicleta depois de montada parecia mais com isso aqui.
Apesar de ser um homem forte, com senso de humor apurado, boa conversa e
otimismo, eu podia sentir a frustração do meu pai diante de situações que
exigiam o que ele não podia nos dar. Grande parte por causa do descontrole
financeiro e do vicio, já que geralmente eram coisas simples e que podiam no mínimo
serem parceladas.
Antes desta empreitada da confecção da magrela, num destes dias de
pagamento o interpelamos ainda bêbado, sobre o nosso repetitivo desejo. Ele abriu
a pochete e nos deu um maço de notas e disse que podíamos compra-la. Mais tarde
quando minha mãe chegou do trabalho e o interrogou sobre o dinheiro dos
mantimentos do mês, ele respondeu que nos deu para comprar a nossa bike e por
causa disso comeríamos somente ovos o mês todo. Minha mãe nos chamou e nos
explicou que não era deste jeito, que aquilo ia ter implicações, porque as
contas não estavam pagas, e para piorar, ele já havia deixado uma boa quantia
no boteco.Aquilo foi um duro golpe para nós e creio que para ele também, que vivia
na impotência de não poder viver além das contas malmente pagas. Talvez tenha
sido isso um motivador do ciclo do vício em bebidas.
O engraçado ou não, o fato é que eu acabei trilhando o mesmo caminho no tocante
ao financeiro, pelo menos até agora. O que deveria ser um alerta sobre como não
proceder, acabou virando escola para mim. Dividas e empréstimos se tornaram tão
comuns na minha vida que nunca tive a sensação de como é receber meu salário e
ver sobrar algo após pagar as contas. Passei tanto tempo nesta bola de neve que
julgava até ser impossível se ter uma vida financeira saudável. A sensação de impotência que isso traz, as oportunidades que se deixa de
aproveitar e a intranquilidade provam que a vida financeira é muito mais do que
simplesmente dinheiro. Não é a toa que
uma pesquisa mostrou que 17% dos casais brigam por causa de dinheiro e este
número aumenta para 23% se o casal tem contas em atraso.
Sinceramente não sei porque algumas pessoas tem uma vida aparentemente
tranquila desde o início de suas carreiras no sentido financeiro e outras como eu, levam
tanto tempo para se encontrarem. Acredito que a carência de
uma educação voltada para isso faz com que sigamos o exemplo mais
próximo que nem sempre é o mais indicado.
Não posso voltar no tempo, mas sei que posso escolher não fazer as
mesmas escolhas ruins. Um proverbio zen diz: “a melhor época para se plantar
uma árvore, foi há 20 anos atrás. A segunda melhor época é agora. ”
Para não deixar o lado concreto de fora, este mês fiz um aporte de R$
292,04. O carro teve sua última parcela quitada e um empréstimo de quase R$
500,00 teve sua última parcela debitada. Restam dois empréstimos que
somam quase R$ 800,00. Parece muito e é, mas no início deste ano, as
parcelas totalizam em torno de R$2.200,00.
Continuarei com os aportes e quando eles alcançarem um valor suficiente
para quitação, aproveitarei a oportunidade para solicitar o devido desconto e
paga-los.
Como eu devia uma explicação sobre o tal cartão virtual, vamos lá:
Trata-se de um valor que eu alocarei com o objetivo especifico de fazer compras
e ao invés de remunerar as empresas de cartão de credito, usarei os valores
normalmente gastos em taxas para gerar rendimento. Exemplo, um valor limite de
3.000 mil reais com uma anuidade de 250 reais ao ano. Os 250 reais seriam
investidos ao invés de irem para o bolso de financeiras. No caso de uma compra
no valor de 3.000 reais, que admite parcelamento em 10 vezes de R$ 300,00 sem
juros ou 12 vezes de R$ 320,00 com juros, porem á vista admite um desconto de
10%, o produto seria pago à vista; a diferença embolsada (R$ 300,00) iriam para
investimento. O valor limite seria restaurado em 12 meses, considerando o valor
de parcelamento com juros. Isso totalizaria um valor de R$ 1.140,00 sem contar a
anuidade. A lógica é sempre pagar a vista, conseguindo um desconto para este
tipo de pagamento e restaurando o valor do limite com base na parcela
acrescentada de juros. Este valor sempre deverá ser realocado com este intuito,
e a anuidade paga a mim mesmo compensa isso. Mantê-lo numa poupança para efeito
de liquidez seria suficiente. Lembrando que não compensaria neste caso, ter
nenhum tipo de cartão de empresas com anuidade.
Bom depois de tanto falar, fico por aqui. Keep going!
Grande Julius!
ResponderExcluirMe identifiquei muito com as suas palavras. Também tive um pai descontrolado financeiramente, e também herdei isso dele. Agora, quase aos 40 anos, que acordei para a vida e estou buscando melhorar financeiramente.
Acredito que estamos no caminho certo, afinal, já identificamos o problema. Agora é fazer a coisa certa reiteradamente, dia após dia, até que as coisas mudem de figura.
Acredito que nunca é tarde para tomar essa decisão. Uma frase que você colocou aí no seu texto diz tudo sobre isso, inclusive anotei ela aqui, pois gostei muito: “a melhor época para se plantar uma árvore, foi há 20 anos atrás. A segunda melhor época é agora. ”
Então comecemos já!
Forte abraço.
Boa Avj! Realmente a influência é muito grande, uma vez que as escolas não se preparam para este tipo de educação, deixando a par dos pais por vezes despeeparados. Estamos agora plantando o que deveríamos ter plantado há tempos atrás mas não nos sintamos culpados, pois cada um tem uma história por trás disso. Lentamente, estou comemorando as pequenas vitórias que impulsionam a caminhada. Estamos juntos nesta!
ResponderExcluirJulius, gostei muito do seu blog! Acabei de conhecê-lo e estou lendo de cabo a rabo. Rapaz, me identifiquei muito com a história. Também vivi alguns momentos críticos na infância e você me fez lembrá-los. Desejo a você força pra acabar com estes empréstimos e começar a aportar com frequencia. A hora é agora, como disse o amigo aí em cima! Grande abraço!
ResponderExcluirwww.acumuladorcompulsivo.com