sábado, 6 de outubro de 2018

Bicicleta, raízes e dinheiro



Normalmente quando penso em escrever, me vêm muitas lembranças e a maioria são tristes. 
Não consigo evita-las pois simplesmente acontecem, brotam no pensamento repentinamente e com a mesma velocidade se vão. Não quero parecer melancólico ou choroso, mas gostaria de ser o mais transparente aqui sobre as vivências que me tornaram esta pessoa que vos escreve.

Sou filho de uma família de três irmãos e como se pode imaginar, as condições de vida de uma família assalariada com uma renda baixa não é das melhores. Some-se a isso o descontrole financeiro e uma pitada de vicio.
Minha vida não foi uma desgraça como muitos pintam as suas por aí, mas confesso que tive alguns baixos. Normalmente situações que são comuns para a maioria, na minha vida exigia um esforço quase descomunal que quase sempre se traduzia em frustração.

Lembro de quando na infância eu e meu irmão pedimos a nosso pai uma bicicleta e de como no passar dos anos as promessas iam se renovando sem nunca ser cumprida. Cansados e já desacreditados de recebe-la, resolvemos montar uma peça por peça. No fim, conseguimos monta-la e com 15 reais recebidos do nosso pai, compramos as rodas que estavam faltando. A magrela mais quebrava do que rodava, por isso andávamos com uma chave de roda no bolso no caso dela quebrar no meio do caminho, o que quase sempre acontecia.
Não demorou muito para que meu velho nos proibisse de andar nela com a desculpa de que eu tinha atropelado o filho do vizinho (o que em parte aconteceu por falta de freios que ainda não tínhamos comprado).

A bicicleta depois de montada parecia mais com isso aqui.

Apesar de ser um homem forte, com senso de humor apurado, boa conversa e otimismo, eu podia sentir a frustração do meu pai diante de situações que exigiam o que ele não podia nos dar. Grande parte por causa do descontrole financeiro e do vicio, já que geralmente eram coisas simples e que podiam no mínimo serem parceladas.

Antes desta empreitada da confecção da magrela, num destes dias de pagamento o interpelamos ainda bêbado, sobre o nosso repetitivo desejo. Ele abriu a pochete e nos deu um maço de notas e disse que podíamos compra-la. Mais tarde quando minha mãe chegou do trabalho e o interrogou sobre o dinheiro dos mantimentos do mês, ele respondeu que nos deu para comprar a nossa bike e por causa disso comeríamos somente ovos o mês todo. Minha mãe nos chamou e nos explicou que não era deste jeito, que aquilo ia ter implicações, porque as contas não estavam pagas, e para piorar, ele já havia deixado uma boa quantia no boteco.Aquilo foi um duro golpe para nós e creio que para ele também, que vivia na impotência de não poder viver além das contas malmente pagas. Talvez tenha sido isso um motivador do ciclo do vício em bebidas.

O engraçado ou não, o fato é que eu acabei trilhando o mesmo caminho no tocante ao financeiro, pelo menos até agora. O que deveria ser um alerta sobre como não proceder, acabou virando escola para mim. Dividas e empréstimos se tornaram tão comuns na minha vida que nunca tive a sensação de como é receber meu salário e ver sobrar algo após pagar as contas. Passei tanto tempo nesta bola de neve que julgava até ser impossível se ter uma vida financeira saudável. A sensação de impotência que isso traz, as oportunidades que se deixa de aproveitar e a intranquilidade provam que a vida financeira é muito mais do que simplesmente dinheiro.  Não é a toa que uma pesquisa mostrou que 17% dos casais brigam por causa de dinheiro e este número aumenta para 23% se o casal tem contas em atraso.


Sinceramente não sei porque algumas pessoas tem uma vida aparentemente tranquila desde o início de suas carreiras no sentido financeiro e outras como eu, levam tanto tempo para se encontrarem. Acredito que a carência de uma educação voltada para isso faz com que sigamos o exemplo mais próximo que nem sempre é o mais indicado.
Não posso voltar no tempo, mas sei que posso escolher não fazer as mesmas escolhas ruins. Um proverbio zen diz: “a melhor época para se plantar uma árvore, foi há 20 anos atrás. A segunda melhor época é agora. ”

Para não deixar o lado concreto de fora, este mês fiz um aporte de R$ 292,04. O carro teve sua última parcela quitada e um empréstimo de quase R$ 500,00 teve sua última parcela debitada. Restam dois empréstimos que somam quase R$ 800,00. Parece muito e é,  mas no início deste ano, as parcelas totalizam em torno de R$2.200,00.
Continuarei com os aportes e quando eles alcançarem um valor suficiente para quitação, aproveitarei a oportunidade para solicitar o devido desconto e paga-los.


Como eu devia uma explicação sobre o tal cartão virtual, vamos lá:
Trata-se de um valor que eu alocarei com o objetivo especifico de fazer compras e ao invés de remunerar as empresas de cartão de credito, usarei os valores normalmente gastos em taxas para gerar rendimento. Exemplo, um valor limite de 3.000 mil reais com uma anuidade de 250 reais ao ano. Os 250 reais seriam investidos ao invés de irem para o bolso de financeiras. No caso de uma compra no valor de 3.000 reais, que admite parcelamento em 10 vezes de R$ 300,00 sem juros ou 12 vezes de R$ 320,00 com juros, porem á vista admite um desconto de 10%, o produto seria pago à vista; a diferença embolsada (R$ 300,00) iriam para investimento. O valor limite seria restaurado em 12 meses, considerando o valor de parcelamento com juros. Isso totalizaria um valor de R$ 1.140,00 sem contar a anuidade. A lógica é sempre pagar a vista, conseguindo um desconto para este tipo de pagamento e restaurando o valor do limite com base na parcela acrescentada de juros. Este valor sempre deverá ser realocado com este intuito, e a anuidade paga a mim mesmo compensa isso. Mantê-lo numa poupança para efeito de liquidez seria suficiente. Lembrando que não compensaria neste caso, ter nenhum tipo de cartão de empresas com anuidade.
Bom depois de tanto falar, fico por aqui. Keep going!


3 comentários:

  1. Grande Julius!

    Me identifiquei muito com as suas palavras. Também tive um pai descontrolado financeiramente, e também herdei isso dele. Agora, quase aos 40 anos, que acordei para a vida e estou buscando melhorar financeiramente.
    Acredito que estamos no caminho certo, afinal, já identificamos o problema. Agora é fazer a coisa certa reiteradamente, dia após dia, até que as coisas mudem de figura.
    Acredito que nunca é tarde para tomar essa decisão. Uma frase que você colocou aí no seu texto diz tudo sobre isso, inclusive anotei ela aqui, pois gostei muito: “a melhor época para se plantar uma árvore, foi há 20 anos atrás. A segunda melhor época é agora. ”
    Então comecemos já!

    Forte abraço.

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  2. Boa Avj! Realmente a influência é muito grande, uma vez que as escolas não se preparam para este tipo de educação, deixando a par dos pais por vezes despeeparados. Estamos agora plantando o que deveríamos ter plantado há tempos atrás mas não nos sintamos culpados, pois cada um tem uma história por trás disso. Lentamente, estou comemorando as pequenas vitórias que impulsionam a caminhada. Estamos juntos nesta!

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  3. Julius, gostei muito do seu blog! Acabei de conhecê-lo e estou lendo de cabo a rabo. Rapaz, me identifiquei muito com a história. Também vivi alguns momentos críticos na infância e você me fez lembrá-los. Desejo a você força pra acabar com estes empréstimos e começar a aportar com frequencia. A hora é agora, como disse o amigo aí em cima! Grande abraço!
    www.acumuladorcompulsivo.com

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